Definição

“Mens sana in corpore sano”

Creio que todos já ouvimos ou lemos essa frase. Para ter um corpo saudável, é necessário mente sadia.

Que devemos fazer para ter uma mente saudável é um tema muito polêmico, e não é objeto desse post. Mas vamos comentar sobre alguns aspectos que podem ajudar.

Começamos com a apresentação de um estudo científico retratado no livro “Counter Clockwise”, da Ellen J. Langer. Em tradução livre, “Counter Clockwise” significa “Sentido anti-horário”. Os textos abaixo tem por base esse livro.

Estudo científico

O estudo questionava se era possível melhorar nossa saúde e aparência se voltássemos a viver 20 anos atrás, quando éramos mais jovens. Ou seja, se voltando a viver nessa época, isso nos faria de alguma forma “rejuvenescer”.

O estudo foi realizado em 1979, durou uma semana e foi realizado em um velho monastério em Peterborough, New Hampshire. A ideia era replicar o ano de 1959. Nesse estudo foram considerados somente homens com idade próxima de 80 anos, saudáveis.

Foram escolhidas 8 pessoas para o grupo “teste”, e 8 pessoas para o grupo “controle”.

Entrevistas foram realizadas com todos, para definir seu perfil físico (indicadores clínicos e laboratoriais) e psicológico (segundo eles mesmos), incluindo testes de memória. Acuidade visual foi um dos indicadores.

O grupo “teste” deveria viver uma semana confinado num local, como se realmente estivessem em 1959. Toda conversa deveria ser no verbo presente, como se estive realmente acontecendo.

Para os indivíduos do grupo “teste”, nenhum pertence particular – como revistas, livros ou objetos pessoais -, eram permitidos.

Todo o ambiente simulava 1959; na TV passava filmes dos anos 50, a música era dos anos 50. As pessoas deveriam conversar sobre coisas da época, aproveitar a semana como se realmente estivessem em 1959, revivendo as cenas positivas desta época. A orientação não era “viver como se estivesse em 1959”, mas se sentir realmente em 1959.

Comentários devidos, por exemplo, seriam: o lançamento (no ano passado) do primeiro satélite USA – o Explorer 1(1958); o avanço de Castro em Havana; o jogo do Baltimore Colts contra os New York Giants na NFL.

O segundo grupo, “controle”, também ficou o mesmo tempo confinado em outro local, num SPA, porém vivendo normalmente em sua época, 1979.

Resultados

Depois de uma semana, os grupos foram testados novamente, seus indicadores físicos e psicológicos foram novamente checados.

O resultado analítico dos testes antes e depois do tratamento foram incríveis. O grupo que viveu nos anos 50 rejuvenesceu. Houve incremento:

  1. Ganho de força muscular
  2. Melhora nas articulações
  3. Melhora na artrite
  4. Maior destreza manual
  5. 63% do grupo experimental melhorou seu placar em testes de inteligência
  6. Melhora na postura, peso, modo de andar
  7. Comparando fotos de antes e depois do experimento, todos disseram que se via mais jovens em relação ao início.

O grupo “controle”, que ficou num SPA vivendo normalmente em sua época, não teve melhoras significativas em seus indicadores.

Analise

Verificou-se algo que não é desconhecido dos psicólogos e psicanalistas: nós podemos alterar a saúde do corpo alterando nossa mente.

No estudo, utilizou-se um método chamado “Mindfulness”. Ou seja, atenção plena.

Atenção ou concentração em algo que estamos fazendo, é chamado de “Mindful”. Mindfulness é outro conceito, é algo bem mais aprofundado, como no estudo relatado acima.

Mindfulness pode ser definido como o estado de meditação de um monge budista. É plenitude, abstração completa, atenção plena e prolongada.

Um dia eu estava conversando com uma pessoa que estava aprendendo xadrez, e estava adorando. Estávamos num restaurante. Essa pessoa olhou os objetos na mesa e, imaginando um tabuleiro, começou a mover os utensílios como se fossem peças do xadrez, simulando jogadas. Foi engraçado, e interessante. Mostrou o nível de dedicação (concentração, mindful) em seu estudo de xadrez.

Exercício de imaginação

Imaginemos um cientista que tem um projeto que ele acredita ser de extrema importância para sua vida ou de outros. Mesmo quando está realizando tarefas cotidianas, não consegue esquecer seu interesse, sua mente está no seu projeto, e todas as coisas lhe parecem conectadas a isto. Não podemos dizer que está em Mindfulness pois é algo mais profundo, mas está no caminho, pois sua dedicação é total ao projeto.

Agora imaginemos um monge budista, que se dedica conscientemente a descoberta de algo. A concentração tem muitos níveis de profundidade, e o monge vai penetrando nesses níveis. Até que consegue a concentração perfeita, numa única coisa. Esse é o estado de meditação, segundo relatos budistas, onde o asceta tem percepções totalmente diferentes daquelas que analise intelectual nos mostra. Esse é o estado de mindfulness.

Tudo bem, não precisamos ser monges budistas para extrair os benefícios de um estado de mindfulness. Como vimos no estudo da Ellen Langer, podemos induzir esse estado. E podemos chegar a diferentes níveis de atenção plena e, claro, colher diferentes benefícios.

Mudança de paradigma

Esse estudo mudou completamente a forma de pensar em como a biologia é responsável pela nossa vida. Podemos extrapolar limites. Nenhuma sabedoria médica é definitiva, nem completamente verdadeira.

Se um grupo de adultos com mais idade podem mudar tanto em uma semana, qual o limite para todos nós?

Pensem numa hipótese: vamos supor que estejamos pesquisando se os macacos podem falar. Eu não preciso ouvir  TODOS os macacos falar para afirmar “macacos falam”. Basta eu ouvir UM deles falar, para saber que essa habilidade é possível nos macacos. Percebem?

Existe um conceito enraizado na nossa cultura ocidental de que com idade vem as doenças. Nada mais enganoso. Podemos ser como uma lâmpada, até o segundo anterior que ela queimou, ela brilhava.

Nosso corpo possui um sistema chamado “auto cura”. Se cortamos o dedo, em pouco tempo a ferida fecha, cicatriza, a pele recobre e nada mais aparece. O que houve? Um processo de auto cura. Se dermos ao corpo o que ele precisa (somente), e não atrapalharmos, ele desencadeia naturalmente esse processo, e se mantem saudável o tempo todo.

Nenhum médico pode curar. Ele apenas pode ajudar a propiciar as condições que o corpo precisa para a auto cura. 

Considerando isso como verdade… e se tivermos atenção ao nosso corpo e mente durante a vida toda? Bem, para começar seremos saudáveis a vida toda. Mas… o que mais podemos ser? Ter saúde e não ter um projeto de vida (não importa a idade), é como ter uma Ferrari coberta de pó na nossa garagem.

Sabemos tanto sobre saúde, mas sabemos muito pouco estilo de vida saudável. Não se trata de seguir ou não as orientações médicas, fazer dietas, exercícios etc. Ou não fazer isso. Trata-se de ser dono e responsável pela nossa própria saúde, nos libertando de toda sorte de limites ou teorias.

A palavra-chave é “compreensão”. Precisamos compreender o que precisamos fazer, e não somente “acreditar” em algo que nos disseram. É totalmente diferente. Quem compreende que o pão que adoramos no café da manhã não tem nada de saudável ou nutricional, não precisa sequer acreditar no que lhe dizem a respeito. E como chegamos a compreender? Simples, no caso do pão, basta ter informação bioquímica sobre os ingredientes do pão. E não precisa ser médico para saber que Glúten, Fermento químico e Açúcar não são saudáveis. E se tirarmos estes 3 ingredientes, o que sobra do nosso adorado pão?

Se tiramos a espuma gerada pelo fermento, sobra a realidade. Agora levemos esse conceito para nossa rotina diária. Conseguem imaginar as mudanças que podemos fazer? 

A camisa branca e o molho de tomate

Existe uma medicina para todos, sem distinção. E existe uma medicina para cada pessoa. Algo que é muito bom para uma pessoa, pode trazer danos para outra pessoa. E o médico pode não saber o motivo disso; quem pode ter essa resposta de modo assertivo, é a própria pessoa.

Se derramamos molho de tomate em uma camisa branca, logo percebemos. Porém, se a camisa for xadrez com vermelho, podemos não perceber. Comparativamente, determinadas ocorrências impactam mais uma pessoa que outra, e pode impactar a mesma pessoa diferentemente em momentos diferentes. Dependendo como estamos no momento, a contaminação ou sujeira pode passar despercebida.

Quanto mais atentos as tarefas do dia estivermos, mais nos vemos com a camisa branca. Então pequenas manchas coloridas (contaminações) podem ser percebidas, e eliminadas. Devemos eliminar toda sorte de elementos nocivos da nossa alimentação. Adicionalmente, devemos eliminar toda sorte de elementos nocivos da nossa psique. Lembre-se: mens sana in corpore sano.

Ver o novo

Sabe aquela voz que ouvimos a todo momento, desde que levantamos até nos deitarmos? Essa voz nem sempre é saudável, e nos toma muita energia. Aí estão nossos pensamentos negativos, aí está o que nos debilita.

Essa voz interior não pode nos ajudar, somente nos desacreditar, colocar obstáculos, sugerir condutas erradas. Se algum dia você “amarelou”, teve medo ou receio de fazer algo, não foi por falta de capacidade, mas por culpa dessa voz interior, essa mesma que martela constantemente em nossa mente. Melhor seria pará-la.

Quanto mais atentos (mindful) estivermos, mais descobertas faremos sobre nós mesmos.

Quando vemos algo novo, ficamos atentos. E atenção plena (mindfulness) gera mais atenção plena. Como diz o TAO, nunca a mesma água passará pela mesma ponte duas vezes. Na segunda vez, a água terá mudado, a ponte terá mudado, o observador terá mudado. Assim são todas coisas, sempre se renovam. Os chineses chamam isso de Yin e Yang.

Então que tal vermos as coisas sempre como algo novo? Que tal nos surpreendermos com as novidades? Tenham em conta que: “se colocamos óculos colorido em nossos olhos, todas as coisas parecerão ter esta cor”. Temos que abandonar os óculos, e ver tudo ao nosso redor com as cores reais, fisicamente e psicologicamente.

Sabe aquela mágoa de alguém? Se você entendeu os parágrafos anteriores, essa mágoa já não tem sentido, pois você já mudou, a outra pessoa já mudou, o cenário mudou. Percebem? O que passou ontem já não nos interessa, pois hoje é um novo dia, e com ele vem a oportunidade de fazer tudo diferente. E não precisamos mais criar um inferninho na mente para nós mesmos ou para outros. Podemos e devemos considerar cada dia como uma nova vida. Assim teremos muitas vidas, e se formos inteligentes, cada uma delas será melhor que a anterior.

Reverso da medalha

Se podemos melhorar nossa saúde e nossas capacidades além dos limites, o contrário também é verdadeiro.

Que podemos dizer de uma pessoa que leva um estilo de vida pouco recomendável?

Coisas normais, corriqueiras, como esse relato:

Vamos ver um dia na vida, uma miniatura da própria existência, de João.

Ao acordar, os pensamentos são aleatórios, sem controle. Fluem livremente. As atitudes, de maneira igual, são mecânicas e/ou erráticas. Toma seu café, suco de laranjas frescas com torradas light, sobrecarregando seu fígado e o intestino. Vai para o trabalho em stress pelo trânsito, aumentando seu cortisol. Na empresa, as 9 horas é hora daquele donut com suco de maça ou chá adoçado (aumentando a glicose). Ao meio-dia, naquele bom restaurante, verduras com agrotóxicos regadas a molho feito com xarope de milho e glutamato monossódico; carnes toxicas pelo óleo vegetal parcialmente hidrogenado, alguns carboidratos e, claro, uma sobremesa. No final um café com aspartame (indicado para Alzheimer). A tarde vem uma dor de cabeça, que um relaxante muscular com cafeína resolve. Ah, alguém fez aniversário e trouxe um belo bolo (com bastante margarina hidrogenada e açúcar), irresistível as 16:00. Finalmente chega o final do dia, após horas de um trabalho aborrecedor. De volta para casa, tem o trânsito e os pensamentos recorrentes, quase uma canção psicológica, que se repete a exaustão. À noite, um sanduíche light com alimentos altamente processados, talvez um drink, algumas horas de TV e o subsequente sono pesado, repleto de pesadelos pela ingestão de determinados alimentos, pela qualidade ou quantidade.

Adicione a esse caldo uma pitada de problemas conjugais, dificuldades econômicas, família desajustada, mágoa, ressentimento. Existe um espectro enorme de ingredientes.

Talvez em algum momento João se pergunte: o que faço de errado? Estou sempre cansado, sem motivação, com dores, doente. Me sinto infeliz. Preciso de um médico, ele vai resolver.

Lamentamos responder assim ao João, mas isso não vai acontecer dessa forma.

Sentimentos e Razão

Existe uma ideia antiga na filosofia Socrática que diz:

                  Para aprender sobre si, basta transformar em palavras o que a pessoa sente!

Algo muito legal acontece quando uma pessoa entende, e pratica isso. Todos temos sentimentos inconfessáveis. Quando traduzimos isso em palavras, muitas vezes nos assombramos. Mas é um assombro didático, saudável. Não importa a qualidade do sentimento, ele é trazido a tona. E finalmente estamos nos vendo como somos. O primeiro passo para mudar é se conhecer. 

Se o que descobrimos sobre nós mesmos é absurdo, agora podemos mudar, pois a razão (a consciência) está participando, está julgando o sentimento.

Se o que descobrimos sobre nós é agradável, podemos ampliar isso e tornar nossa vida mais feliz.

Existe receita para ser saudável?

Sim, existe. A receita tem o nome de “Compreensão”. Devemos atuar o dia todo usando nossa consciência, atentos a tudo que nos rodeia. Atentos aos pensamentos, sentimentos, vontades e principalmente ás ações. De onde vem, para que servem, são realmente verdadeiros e sadios, são uteis? Podemos fazer disso nossa pratica de  “mindfulness”.

O maior mal do mundo chama-se ignorância. Desinformação.  Somos bombardeados pela mídia para consumirmos produtos que dê lucro aos fabricantes. E assim vamos construindo nossa história de vida, vivendo histórias que nos contaram, muitas delas absurdamente erradas.

Podemos mudar isso. Devemos ter objetivo de vida, um norte para alcançar. A um navio sem destino, qualquer vento leva para qualquer lugar e nunca chega a lugar nenhum. Se tivermos objetivos claros, olhamos para frente, acreditamos na vida, não enxergamos limites, vivemos plenamente. Lembram do cientista com seu projeto? Podemos agir da mesma forma em nossa vida inteira.

Pense nisso, seja dono de sua vida, não a delegue para ninguém. 

1 comentário em “Mindfulness e sua saúde”

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